quarta-feira, 20 de abril de 2011

Semeador de Sonhos (Crônica)



Por: Hudson Giovanni

Se eu fosse (e vou) deixar um legado, contaria um pouco sobre mim. Afinal, o que mais posso deixar aos meus do que o conhecimento sobre mim mesmo?
Sou um cara amigo, sincero, tranqüilo, respeitador que gosta de curtir as coisas boas da vida com simplicidade, e sem jamais passar por cima de ninguém, respeito as pessoas, e principalmente respeito o espaço delas.
Simplicidade. Nunca deixe de ver a perspicácia da simplicidade. É Grandiosa. Sempre encontrei nela o supra-sumo do verdadeiro sabor da vida. Em coisas simples, singelas, sempre pude ter e saborear os melhores gostos do que se aproxima de ser feliz.
Sempre fiz um pouco de cada coisa, e uma coisa de cada vez. Faça isso.
Já fiz cócegas na minha irmã só para ela chorar mais, e já fiz ela chorar; já me queimei brincando com fogo ( e há um duplo sentido nesta frase); já brinquei de colocar fogo na bucha de “bombril” e rodar ela como se fosse fogos de artifício; conversei com o espelho, e ele sempre me dava uma resposta que parecia não ser eu; e até já brinquei de ser bruxo; já escrevi no muro da escola, já chorei sentado no chão do banheiro. Já fugi de casa pra sempre e voltei no outro instante; já acordei no meio da noite e comi tudo que tinha na geladeira; já roubei rosas em jardim da igreja.
Já quis ser cientista, artista, mágico, cantor, professor, e até Padre.  Não seja isso tudo, mas um pouco de tudo isso.
Brinque! Ria.
Já me escondi atrás da porta pra assustar um amigo. Já me assustei com muitos amigos.
Já passei trote por telefone, já tomei banho de chuva e acabei gripando, mas como é bom um banho de chuva e como sinto falta de fazer algo tão simples.
Fui magoado, magoei, confundi sentimentos, aliás, isso eu fiz várias vezes. E mesmo com o tempo, acho que ainda não aprendi a avaliar de fato e distinguir cada um deles. Escolhi caminhos que julguei mais fácil e acabei entrando em estradas erradas, e continuo andando pelo desconhecido.
Já raspei a sobrancelha, já me cortei fazendo a barba; já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas não são tão fáceis de esquecer já chorei ouvindo música no ônibus.
Aliás, como já chorei ouvindo música. E ri muito também. Afinal, se fosse montar uma trilha sonora para minha vida eu teria que gravar um mp3. Faça isso.
Cuidado com mentiras. Já menti, mentiram pra mim. E algumas vezes eu mesmo menti pra mim, ou melhor, me iludi tentando acreditar em uma verdade que era só minha. Por isso, às vezes acho que não mentiram pra mim, eu que não quis ver a verdade.
Já fiz juras eternas, que não passaram de alguns dias. Já vivi dias que parecem ter sido eternos.
Você nunca está só, nunca se esqueça disso. Por varias vezes já fiquei sozinho no meio de mil pessoas e sentindo falta de uma só. Tem dias que ainda me sinto assim.
Vi o por do Sol cor alaranjado e a Lua em um tom de azul que só teve naquele dia; já usei óculos escuros tentando parecer fino, mas era pra esconder os olhos inchados de lágrimas. 
Já deitei na grama de madrugada, já vi a lua virar sol, já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos e a vida é mesmo feita de encontros e despedidas.
Entre em sintonia com a Natureza. Seja amigo do Sol e da Lua.
Quantas vezes eu olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei o meu lugar. 
O Olhar. Que poder ele pode e tem. Às vezes (quase sempre) ele diz mais do que todas as palavras já inventadas. E tenho descoberto que somos cegos para as mais belas coisas da vida. Veja o que há de bom de fato.
Já quase morri de amor inúmeras vezes, mas renasci novamente para ver o sorriso de alguém especial.
Se apaixone. Eu já me apaixonei tantas vezes e pensei que era pra sempre! O ruim que o para sempre, sempre acaba.
Já chorei por amigos e por causa deles. Já tive a dor mais difícil: a de enterrar um amigo, e tentado me consolar dizendo que ali era só o corpo, mas sempre será difícil entender isso.
Já chorei vendo álbum de fotos, e ri demais fazendo o mesmo.
Tomei altos porres, passei mal, vomitei quase que meu estomago inteiro e ainda sinto saudades de dias assim.
E agora, me faço um interrogatório e pareço-me o meu próprio carrasco quando me indago: “Qual é sua experiência?”, “O que você vai levar de aprendizado?”.
Mesmo tendo derramado tantas lágrimas, agradeço aos Céus por cada uma. Cresci. Sou forte, sou homem, sou animal, sou coração  e razão, sou o cara e sou sem cara. Sou sábio e um eterno aprendiz. O tempo passou é verdade.
Não tenho mais a vitalidade que eu tinha, não possuo toda a força da adolescência, mas não vou lamentar essa mudança que o tempo trás. Já fui sim mais novo, mas não quero ser novo novamente. O sabor da experiência é melhor do que o da incerteza da juventude. Possuo algo que sempre será jovem e me manterá assim. Pois o mais velho de todos é aquele que deixou de ter entusiasmo pela vida. E se alguém perguntar o que faço da vida, terei prazer em responder: “Sou um semeador de sonhos!”.

Um comentário: